quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Análise do novo filme de Guy Ritchie



(...) Conan Doyle teria desaprovado o filme de Guy Ritchie? Claro. E não apenas porque o personagem de Mrs. Downeys, estranho e histérico, mesmo vestindo-se da maneira adequada e mais feliz em solucionar um crime com um murro do que com seu cérebro. Pelo fim de sua vida Conan Doyle tinha se tornado uma combinação ímpar de conservadorismo e um ardente homem de fé do espiritualismo, sempre indo a sessões espíritas e mesas giratórias, e teria problemas como o roteiro do novo filme, que involve a exposição de alguns segredos ocultistas que são, na verdade, charlatanismo.
Por outro lado, as cenas de luta de Holmes surpreenderiam Conan Doyle menos do que elas aborreceram alguns dos críticos do filme. Quando jovem, Conan Doyle estava habilitado ao boxe, e em várias histórias ele atribui a mesma habilidade a Holmes, ainda ssim ele provavelmente nunca imaginou que Holmes poderia ter um ciborgue, como um terminal capaz de analisar as leis da física e a resistência osséa antes de decidir como esmagar seu oponente como se fosse gelatina. Na época que Artur Conan Doyle morreu, já haviam roteiros de filmes mudos baseados em Holmes, acompanhados de uma dúzia ou mais interpretações teatrais, muitas das quais Conan Doyle viu. O imenso público de Holmes pedia precisamente o que pertubava Conan Doyle. Ele pensava que Holmes tomava a atenção de seus outros escritos mais sérios e Holmes deu a ele completamente sem satisfação o título daquele que criou um dos primeiros grandes heróis populares, que transcendeu a esfera da ficção da Era Vitoriana e tomou mais do que uma enorme vida extra-literária.
Conan Doyle poderia ter sido um escritor melhor, o problema pode nunca ter chegado à tona. Holmes é um personagem célebre porque como outros super-heróis mais tardios, ele é menos um personagem completamente desenvolvido do que uma coleção de fascinantes traços. Raymond Chandler uma vez lamentou que Holmes seria um pouco mais do que umas poucas linhas de diálogo inesquecível e uma atitude peculiar: o hábito de fumar, o tédio habitual, o hábito de tocar violino, o show de deduções lógicas, em relação ao qual Conan Doyle admitiu abertamente terem sido baseados em um de seus professores de escola médica. (...)