quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Elevação

Crio minha própria realidade, fortaleço com meus impulsos mais conscientes a minha vida interior de riquezas imaginavéis e possibilidades impossíveis. Sou o Ser Supremo dentro de meu universo próprio e enquanto a minha vontade desejar eu continuarei a imaginar e especular sobre meus destinos enquanto ser humano. Confesso o desejo pela posse integral da verdade, o quanto fui antifilosófico nessa minha postura, mas ela também reflete as minhas necessidades e as de todo ser humano enquanto ser que busca situar-se existencialmente. Queria ver pelos olhos de outros o que ainda não consegui enxergar, sentir e vivenciar. Se trata de sentir uma verdade, e não de apenas buscá-la intelectualmente! Intuitivamente sabemos o quanto isso poderia ser enriquecedor, mas sou um louco ao pretender isso com certeza ou somos todos. Pelo pensamento me elevo sobre minha condição limitada e procuro sentir o mundo, respirar no outro, falar através do outro, sentir seu calor e ampliar minha experiência.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é o mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais do que os pensamentos

De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que Metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que é melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto nao quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentando, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.

Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, aqui estou!

(Isto é ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E o luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda hora.
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo meu corpo deitado na realidade
Sei a verdade e sou feliz.

Fernando Pessoa
O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam dela,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que o sonho de todos os poetas
E o pensamento de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender

Sim, eis o que os meus sentidos
aprenderam sozinhos
As cousas não tem significação: tem existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

Fernando Pessoa

domingo, 1 de junho de 2008

Mistérios e Rituais

A noite é bela, escura e fria
cheia de brilhantes multicoloridos que cintilam sob a umidade do ar
A noite é uma senhora, afável e soberba, gentil e vaidosa
que faz carinhos com sua brisa leve pelo meu corpo,
que me arranca todos os sonhos,
que me entrega maliciosamente a toda doce melancolia do que
desejamos mas somos incapazes de ter ou de ser.
Teu céu negro é a íris escura de um deus misterioso
que fitamos ávidos de mistério
do mistério de nossa origem
Mistério do destino, do sono e do sonho

A noite o céu se transmuta em grande útero da massa terrena sonhadora.
Nas horas melancólicas e frias da noite, olho pela janela e sinto uma ânsia de mergulhar na cidade, de me perder entre a gente, de fazer o que não fiz, de sentar-se numa mesa de bar na beira do cais, prosear, beber até me sentir completamente desinibido e ver o mundo com outros olhos, com olhos de bêbedo, com os olhos de um apaixonado, de alguém que tenha tomado uma boa dose de alucinógeno e que sinta a vida pulsar com toda força em suas veias. E me pergunto porque ainda não explorei todas as possibilidades, porque nos limitamos tanto. Satisfaço-me com o ouvir essa sinfonia urbana num palco de luzes e cores, jovens, homens, velhos a andar pelas ruas sedentos de emoções, esperando viver grandes aventuras, seus egos sequiosos de prazer responsável e seus ids loucos querendo passar a perna no guarda da esquina mental. Agora imagino-me maquiado, a àndar na rua, fingindo ser outra pessoa, olhando para o que fazem todos os mortais à minha volta.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Postura crítica do filosofar

Muitos poderiam argumentar que para se dedicar à Filosofia seria necessário ter muitos livros e viver lendo o tempo todo. Mas a Filosofia é mais do que mera leitura interpretativa. É reflexão e não erudição, e aprender a pensar pensando e sempre que possível ter uma postura crítica diante do que se esta lendo. O exercício dessa postura se impõe naturalmente ao filosófo com o tempo, basta que olhemos com cuidado para o que lemos, vemos na tv, o que acontece na internet, com quem, qual grupo social. Basta que aprendamos a ouvir as pessoas com atitude de investigação e interesse para aprendermos com elas algo de sua experiência e conhecimento prático à maneira de Socrátes. Não adianta ler e não interiorizar, mais do que compreender, o que um grande mestre da filosofia escreve. Esse conhecimento tem de ser vivenciado e fazer parte de nossa experiência com o mundo.

sábado, 5 de abril de 2008

Filosofia em prática

A Filosofia está ao alcance de todos, ainda mais quando assume o caráter prático de guiar o indivíduo em sua existência na busca do bem supremo: a felicidade. Nesse aspecto somos todos filosófos e as grandes obras do pensamento estão à disposição de todos os que quiserem através do próprio esforço compreender o mundo e a si mesmo. Com o olhar filosófico aprendemos a ver o mundo com outra percepção, descontruímos a realidade em nós mesmos. Com a simples compreensão de alguns conceitos como o de tempo, arte e morte o que parecia óbvio torna-se causa do maior interesse e inúmeras consequências desse novo ver surgem repentinamente. Todo esse jogo de dúvidas e questionamentos toma um perspectiva fascinante e promissora para a nossa experiência.

Nascemos aprendendo e continuamos a aprender por toda a vida. A Filosofia acelera um pouco esse processo. Permite-nos alcançar por nossos próprios esforços uma vida mais lúcida e sensata. Assumir a busca da sabedoria é assumir a própria vida. Gosto da idéia de que aqueles que se dedicam ao filosofar lapidam a própria alma como uma obra de arte sempre única e inacabada. Gosto do antigo ideal da sabedoria integral dos gregos: em parte contemplativa e teórica e em parte prática e cotidiana. Essa sabedoria deverá proporcionar novas vivências e experiências no campo pessoal.