segunda-feira, 13 de setembro de 2010


"Não basta ser niilista, é preciso saber ser niilista"


Toda teoria tem respostas e enigmas, descobertas ou uma nova visão da realidade carregada de princípios e belezas que a tornam especial. A Filosofia sempre foi conhecida por suas pretensões de dar explicações "globais" sobre a realidade, geralmente baseada sobre um único princípio maior e ordenado/criador do universo: o ser.

Em seu início, todas as ciências estavam unificadas no pensamento, sobretudo grego, e as divisões entre elas eram marcadas por nenhuma metodologia ou conjunto de princípios rígidos e específicos, pois todas se prestavam a explicação dessa totalidade do real. Hoje, vemos padrões e princípios se repetirem em todas as ciências e é interessante notar que conceitos abstratos estão presentes tanto nas teorias da psicologia do inconsciente como nas mais ousadas especulações da física teórica, no funcionamento do corpo humano e da mente humana (um grande e magnífico problema para a filosofia e a ciência atual) e nas teorias evolucionistas, tanto ainda quanto nos estudos sobre mitos e crenças religiosas ou ainda a Sociologia e a Antropologia . Contemplamos, perplexos, esses princípios e nos esquecemos das origens dos pensamentos, dos mitos e da sabedoria de povos antigos não necessariamente gregos nem tampouco ocidentais. É possível ver o exemplo de teorias fantásticas que nos falam sobre outras dimensões, a teoria das Supercordas e dos Fractais. Teorias da interpretação de sonhos que parecem refinamentos da magia e do misticismo dos antigos sacerdotes egípicios ou de xamãs de tribos que ainda vivem em locais remotos, agora vestidos com a roupagem científica e a sua "gramática" própria.
Sobretudo nossos interesses são moldados por nossa educação e condição econômica, não somos estimulados por nossa cultura a tomar uma atitude crítica e criteriosa sobre a realidade. Na maior parte das vezes compramos as opiniões de outros e nos eximimos de uma atitude saudavelmente cética, de um espírito de dúvida, mesmo que por um momento, por estarmos mergulhados numa cultura da competição, do sucesso material e do imediatismo em que impera o dogma da ciência perfeita que se parece cada vez mais com uma nova religião como trata Thomas Kuhn na sua obra "Teoria das Revoluções Científicas". Quando lemos algo não sabemos se o que lemos tem realmente um sentido especial, de reflexão e pensamento elaborado ou se é apenas uma "propaganda disfarçada de idéias e produtos culturais", parece que nos damos muito bem com essa união do útil ao agradável e aceitamos perder a profundidade de nossos anseios de conhecimento e da medida da nossa ignorância. O jeitinho brasileiro parece sempre se insinuar em todas as esferas. Nossos costumes favoritos são: comprar e comer um saco de batatas gordurosas em frente de uma televisão e assistir a qualquer coisa que nos faça esquecer do mundo ao nosso redor. É que nos passam a idéia de que o mundo é um tédio sem necessariamente o ser. Que os livros falam sobre tudo mas nada dizem e que a sabedoria e a reflexão são para intelectuais, eruditos, nerds e tolos, estereótipos intelectuais e rótulos com os quais estamos familiarizados. Nossos locais preferidos são os shoppings e aqueles lugares onde as pessoas se reúnem em grupos fechados para entreolharem-se uns aos outros com desprezo (ou despeito). Nossos diálogos raramente são estimulantes e ricos, pouco envolventes, são círculos fechados e egoístas de pessoas que se pejam do refinamento de seus tipos, de fato, "nossos ouvidos não se cansam de escutar e nem nossos olhos de ver", nossas relações são cada vez mais superficiais, nossa sensibilidade mais embrutecida e nossa racionalidada ainda mais xã e comezinha: uma racionalidade do tipo "Sherlock" , de uma análise psicologica superficial e neurótica. São poucas mais significativas as vezes em que vejo o olhar de pessoas diversas se iluminarem numa discussão amigável ao verem uma causa sobre a qual todos concordam em se unir para lutar a respeito como a educação ambiental, por exemplo, e quando a voz de todos se faz ouvir, as diferentes opiniões serem confrontadas com civilidade, e os ouvidos se aguçarem interessados em não haver apenas um a argumentar, mas todos a persuadir e serem persuadidos (ou convencidos). Mas é claro, situações ideais são por demais teóricas!