Quando ergui tua alma caída
Das trevas da perdição
Com o calor da palavra amiga,
Em profunda dor e emoção
Tu maldisseste, torcendo as mãos,
O teu pecado, tua prisão.
Punindo a mente esquecida
Com a lembrança dolorosa,
Tu me contaste tua história,
Antes de mim acontecida.
Cobrindo o rosto com as mãos,
Cheia de vergonha e horror,
Desabafaste chorando
De indignação e de dor.
Crê-me: ouvi com piedade,
Atento a cada palavra...
Tudo entendi, filha da desdita!
Tudo perdoei e esqueci.
Por que da dúvida secreta
És tu escrava perpétua?
Por que da opinião vazia
Da turba segues cativa?
Descrê do povo falso e vão,
Esquece tua insegurança.
Que tua alma vacilante
Não dê abrigo a opressão!
Em teu seio não acalentes
Da tristeza estéril a serpente,
E em minha casa, livre e orgulhosa,
Entra como legítima senhora!
Tradução livre do poema de Nekrássov feita pelo escritor russo Fiódor Dostoiévski, no livro
Notas do Subsolo.