quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nós, nossos valores, nossas idéias, nossa consciência.

A leitura foi um privilégio do clero e da nobreza, e muito tempo depois com a Reforma Protestante, a maior parte dos livros estava em poder da classe burguesa que iniciou um movimento pela livre interpretação das escrituras, na época amplamente reprimido pela Igreja Católica. A questão atual é: nas mãos de quem está a cultura da leitura e o exercício da crítica e da interpretação? Será que continua sendo um privilégio de alguma nova classe dominante e que agora domina pelo saber, não mas pelos exércitos, nem pelo poder da excomunhão e da tortura? Quem hoje pode dizer que a leitura e a escrita já estão completamente difundidas talvez não possa dizer que tipo de leituras são feitas e quais livros e obras são realmente mais lidas em detrimento de outras. Quem nos diz o que ler, quem nos diz que o diferente também é bom? E mais do que isso, quem se preocupa com critérios? Talvez o crítico literário, o professor universitário, o estudioso da filosofia, em suma, o homem culto, superior pelo saber e pelo domínio de uma língua falada e escrita elaborada, que tenha conhecimento amplos o suficiente da ciência e que possa por sua vez sentir-se parte de um novo grupo social dominante. Algo que Nietzsche chamaria de um homem que tenha realmente vontade de poder. Ou segundo Espinoza, o homem que domina as suas paixões, que não é subtraído pela busca de riquezas e nem pelas aventuras amorosas. Bem, quem realmente está a altura desse ser que "escolheu" ser mais forte? Infeliz é o nosso destino! Se hoje a cultura é acessível a todos, quantos não se recusam a ela, talvez muitos não tenham realmente a escolha de optarem por aproveitar as facilidades que a Internet nos trouxe, hoje podemos ouvir músicas de quase todas as épocas da humanidade, o fenômeno dos livros digitais nos trouxe tudo aquilo que muitos desejariam ter acesso no passado mas não tiveram. Quantos homens, ainda na época do Iluminismo nascente desejaram ler ou ter a posse de um livro, mas se resignavam a ver outros colecionarem obras bem encadernadas apenas pelo prazer de vê-los bem dispostos numa estante? Sequer ouvimos a música do passado por que nossas crianças não aprendem a gostar dessa coisa estranha: a orquestra. Nossos ouvidos destreinados não conseguem distinguir entre um piano e um cravo, alguns até entre um oboé, um saxofone ou um clarinete. Dirão talvez que essa seja uma música para o que chamam de "nerds", ao estilo Lizza Simpson. Não entendo como um homem para viver a sua época tenha que necessariamente subtrair-se a cultura de outras épocas, as suas lições para a humanidade, para que não ocorram os mesmos erros que infelizmente acabam acontecendo. Que cada um possa exercer livremente a sua capacidade crítica em relação aos valores culturais e morais da civilização atual, que não deixemos que outros pensem por nós, pois como em outras épocas, o que cabe ao clero nem sempre cabe aos reis ou ao povo, sejamos mais independentes também nessa questão assim como queremos ser em outras questões. Que o judeu não queira ser escravo do romano talvez possamos entender, mas que nós não queiramos ser escravos de nossas próprias convenções, talvez seja algo do qual temos de tomar distância para perceber, para alguns pelo tempo, para outros pelo pensamento. Resta-nos decidir como o faremos.

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