sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam dela,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que o sonho de todos os poetas
E o pensamento de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender

Sim, eis o que os meus sentidos
aprenderam sozinhos
As cousas não tem significação: tem existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

Fernando Pessoa

Um comentário:

Comunicação disse...

fernando... fantástico!